“Nunca se
volta ao sítio onde já se foi feliz”.
Tenho
pensado muito nesta frase, no que ela de facto significa e se é, de facto,
verdade ou não. África é a minha paixão, Moçambique foi a minha primeira queda,
o primeiro sítio do mundo onde me senti completa, plena, eu mesma. Fui feliz
como nunca em Maputo apenas naqueles dois meses e passei os três anos seguintes
a tentar voltar àquela sensação, à sensação da respiração leve e plena, à
leveza, à felicidade extrema- pelo menos à minha.
Esta
sensação cheia tornou-se rapidamente num medo que me atormentou. Será que eu,
que acredito que nunca se deve de facto voltar onde já se foi feliz, estava a
fazer exactamente o contrário do que acreditava? Será que me iria desiludir pela
primeira vez contigo, mundo da terra quente e alaranjada?
Começo a
achar que a questão não é o voltar ao sítio onde se foi feliz mas antes não
estar nesse sítio à espera de sentir exactamente tudo da mesma forma como se
sentiu de alguma vez- já a Flávia me tinha dito isto. Cada sentimento é um
sentimento, cada dois meses são dois meses, e esses nunca mais serão repetidos,
nunca mais voltarão e não voltei para ti, oh Africa que és tão minha, para
voltar a sentir daqueles dois meses. Esperei mais de ti, esperei sempre mais de
ti.
Esperei que
me conseguisses supreender de novo, que me fizesses apaixonar por ti novamente,
de uma forma distinta, com cores alternantes, com outros sons vibrantes e com
um novo caminhar. Esperei mais de ti, e ainda bem que esperei, porque como
sempre atingiste-me de uma forma sempre tão tua que não consigo nunca explicar.
São Tomé é
uma realidade diferente e separada da que vivi até hoje, é uma outra postura de
vida. O “leve-leve” constante sente-se logo quando se aterra e se inspira pela
primeira vez aquele ar pesado e húmido que custa a entrar e o contágio começa
logo ali, ali mesmo a um passo do avião e sem termos ainda sequer tocado o
chão.
Aqui agora a
paisagem é verde, mas um verde que é tão apaixonante que não dá para descrever.
Existem, à nossa volta, vários tons de verde que parecem ter sido pintados com
o maior dos cuidados e com uma dedicação e empenho que transformou São Tomé num
pequeno paraíso à beira-mar. Aqui as pessoas continuam com o seu sorriso
constante, o tacto necessário e constante dos Africanos continua a ser visível,
as pessoas andam sempre a pé e a vida tem um cansaço muito próprio. Aqui acredita-se em feitiçaria e na religião
e as casas são quase todos do tamanho das nossas cozinhas mais pequenas, todas
de madeira ou então antigas casas coloniais onde os santomenses vivem todos em amontoados
numa comunidade com regras que só eles conseguem definir e precisar. Aqui
existem micro-climas porque tanto temos um sol maravilhoso em São Tomé como
chuva tropical em Ribeira Afonso, existem micro-dialectos que faz com quem os
próprios santomenses não se percebam entre si, existem micro-areias porque
temos praias de areia preta e outras de areia branca, aqui existem
micro-espaços porque tanto temos praia como temos o Pico de São Tomé.
Aqui a
dualidade de São Tomé faz todo o sentido, para mim pelo menos faz.
Volta-se ao
sítio onde se foi feliz, nunca se pode é voltar a procurar a felicidade que já
se sentiu. Faz sim sentido procurar uma outra felicidade, um outro sabor, uma
outra visão do mesmo olhar do mundo.