sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Beleza santomense







"E com a beleza que te encheu a alma já não precisas de acreditar em mais nenhuma eternidade senão a do teu olhar"
Cadilhe



Aqui fui, sou e serei feliz.




África divide-se hoje em mim em dois momentos.

Dois momentos que se distinguem por anos, pela minha maturidade, por países, por dialectos, por paisagem, por climas, por visões de vida. Foram 3 os anos que passei entre as duas experiências que senti aqui, nesta parte do mundo que nunca deixa de me surpreender. No entanto, existe um momento, um sentimento que em ambos se repetiu e que em mais nenhum outro lado consegui alcançar.
Aqui fui feliz. Aqui consegui atingir a plenitude da felicidade, pelo menos da minha felicidade.
Sou uma pessoa muito crítica quanto à felicidade. Não acredito que uma pessoa seja sempre feliz, acredito que uma pessoa tem momentos de felicidade, de grande felicidade. De outra forma, não saberia que o que sente seria, de facto, felicidade e passaria apenas a viver numa rotina que deixaria de ser felicidade e passaria a ser a normalidade. Recuso-me a passar a minha felicidade para essa normalidade e prefiro viver os picos que a vida me dá. 

Atingi o meu pico da felicidade, aqui, do outro lado do mundo de onde fica a minha vida, estranhamente longe de todos aqueles que mais amo, mas onde me sinto completa. Atingi aqui a felicidade nos dois momentos em que África abraçou o meu caminho. 
A primeira vez, em Moçambique, não o consegui identificar, ficou só a sensação sem precisão. Desta vez, desta vez para mim foi claro, senti aquele sentimento a crescer dentro de mim com todas as forças, só queria explodir de tanta felicidade, não me conseguia rir mais e os meus olhos, ah tenho a certeza que os meus olhos pareciam os de uma criança quando vê um doce. Foi aquele o momento, depois da noite passada com o grupo todo na Praia de Jalé e antes de chegarmos a casa, enquanto íamos apenas 6 pessoas naquele toyota hiace, enquanto éramos envolvidos por toda aquela paisagem que só é possível de se ver e sentir em São Tomé, enquanto ouvia música e olhava para todo o meu redor, enquanto sentia que estava ali, ali no projecto que desenhei e que consegui concretizar, enquanto lutava eu e mais aquelas 5 pessoas por um mundo diferente, nesse exacto momento, senti que nada mais me faltava para ser feliz.

Aqui fui, sou e serei feliz.

A Gusta



A Gusta é uma mulher de porte. 
De porte, porque a bata que usa todos os dias no Centro Padre Silva não escondem o volume de todo o seu corpo já gasto por tanto trabalho que é exigido por esta terra verde que é São Tomé. 
De porte, porque é mulher e as mulheres santomenses são a laranja mecânica deste paraíso. São elas que fazem este país girar com a sua garra, com as suas mil e uma tarefas diárias, com o trabalho pesado que aguentam, com os pesos extraordinários que conseguem, tal como um especialista, equilibrar na cabeça enquanto carregam os filhos às costas.
De porte, porque a Gusta fala demais numa terra em que se fala de menos. 
De porte, porque a Gusta mete as mãos à cintura e ninguém a consegue parar. Vai directa à pontaria que ela própria estipulou que nem uma seta acelerada com pressa de tudo e de nada. 
De porte, porque a Gusta está sempre com um riso genuíno na cara mesmo quando me pergunta se preciso que me lave a roupa e eu respondo pela milésima vez que eu tenho mãozinhas para isso.
De porte, porque tanto sabe dar como tirar na medida da sua certeza. 

Gosto da Gusta. Faz lembrar-me as mulheres nortenhas e a força e o vinco que sempre adorei ver na personalidade de uma mulher.