terça-feira, 17 de julho de 2012

África enche-me a alma.




"Sei que viajar propiciona alguns dos dias mais intensos e felizes da vida. 
Ainda mais se fores tu a decidir o teu itinerário, as tuas etapas e os teus interesses.
A viagem será tão mais intensa e feliz quanto mais for tua" 



Gonçalo Cadilhe

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ribeira Afonso







Ribeira Afonso fica para Sul Litoral de São Tomé a cerca de 32 km da capital.

Aqui não existe sol nesta altura do ano, a chuva tropical (principalmente à noite) é frequente, o tempo não é tão quente e o ar não é tão húmido como nos outros sítios de São Tomé. Aqui a comunidade é banhado pelo mar, complementada pela fantástica praia das setes ondas e sobrevive do alimento que o mar lhes dá.
Aqui não existe água quente, a electricidade falha imensas vezes, a água (quando existe) tem uma cor acastanhada e os bichos são mutantes.
Aqui vai-se de um lado ao outro em 5 minutos e nesses 5 minutos o nosso olhar é absorvido pelos diferentes tons de verde das árvores, pela praia e por casinhas pequenas de madeira que aparecem de forma desordenada e incompleta umas atrás das outras.
Aqui a pobreza é visível e cheira-se, mas ninguém a tenta esconder, muito pelo contrário, aqui reina a honestidade e a simplicidade em todas as coisas. Aqui todos têm pouco e mesmo assim dão o pouco que têm.
Aqui existe a Roselini que é a rapariga com 19 anos que vende peixe pela vila com um balde na cabeça e que diz que não estudou mais porque não existe escola e que já é mãe de um rapaz de 3 meses. A sua avó (que já é bisavó também) tem apenas 52 anos e é uma senhora amorosa que com um sorriso de orelha a orelha disse que nos queria oferecer o almoço.
Aqui não existem casas de banho, os animais andam à solta tantas vezes pela praia, e as crianças trepam pelas árvores para apanhar cocô, cajamanga e outros frutos.
Aqui acorda-se e adormece-se com o som do mar.
Aqui a vida tem um tempo próprio, um nexo estranho e uma vivência “leve-leve”.

Isto é Ribeira Afonso e faz hoje mais de uma semana que é a nossa casa. 

quarta-feira, 11 de julho de 2012







“Nunca se volta ao sítio onde já se foi feliz”.

Tenho pensado muito nesta frase, no que ela de facto significa e se é, de facto, verdade ou não. África é a minha paixão, Moçambique foi a minha primeira queda, o primeiro sítio do mundo onde me senti completa, plena, eu mesma. Fui feliz como nunca em Maputo apenas naqueles dois meses e passei os três anos seguintes a tentar voltar àquela sensação, à sensação da respiração leve e plena, à leveza, à felicidade extrema- pelo menos à minha.

Esta sensação cheia tornou-se rapidamente num medo que me atormentou. Será que eu, que acredito que nunca se deve de facto voltar onde já se foi feliz, estava a fazer exactamente o contrário do que acreditava? Será que me iria desiludir pela primeira vez contigo, mundo da terra quente e alaranjada? 

Começo a achar que a questão não é o voltar ao sítio onde se foi feliz mas antes não estar nesse sítio à espera de sentir exactamente tudo da mesma forma como se sentiu de alguma vez- já a Flávia me tinha dito isto. Cada sentimento é um sentimento, cada dois meses são dois meses, e esses nunca mais serão repetidos, nunca mais voltarão e não voltei para ti, oh Africa que és tão minha, para voltar a sentir daqueles dois meses. Esperei mais de ti, esperei sempre mais de ti.
Esperei que me conseguisses supreender de novo, que me fizesses apaixonar por ti novamente, de uma forma distinta, com cores alternantes, com outros sons vibrantes e com um novo caminhar. Esperei mais de ti, e ainda bem que esperei, porque como sempre atingiste-me de uma forma sempre tão tua que não consigo nunca explicar.

São Tomé é uma realidade diferente e separada da que vivi até hoje, é uma outra postura de vida. O “leve-leve” constante sente-se logo quando se aterra e se inspira pela primeira vez aquele ar pesado e húmido que custa a entrar e o contágio começa logo ali, ali mesmo a um passo do avião e sem termos ainda sequer tocado o chão.

Aqui agora a paisagem é verde, mas um verde que é tão apaixonante que não dá para descrever. Existem, à nossa volta, vários tons de verde que parecem ter sido pintados com o maior dos cuidados e com uma dedicação e empenho que transformou São Tomé num pequeno paraíso à beira-mar. Aqui as pessoas continuam com o seu sorriso constante, o tacto necessário e constante dos Africanos continua a ser visível, as pessoas andam sempre a pé e a vida tem um cansaço muito próprio.  Aqui acredita-se em feitiçaria e na religião e as casas são quase todos do tamanho das nossas cozinhas mais pequenas, todas de madeira ou então antigas casas coloniais onde os santomenses vivem todos em amontoados numa comunidade com regras que só eles conseguem definir e precisar. Aqui existem micro-climas porque tanto temos um sol maravilhoso em São Tomé como chuva tropical em Ribeira Afonso, existem micro-dialectos que faz com quem os próprios santomenses não se percebam entre si, existem micro-areias porque temos praias de areia preta e outras de areia branca, aqui existem micro-espaços porque tanto temos praia como temos o Pico de São Tomé.

Aqui a dualidade de São Tomé faz todo o sentido, para mim pelo menos faz.

Volta-se ao sítio onde se foi feliz, nunca se pode é voltar a procurar a felicidade que já se sentiu. Faz sim sentido procurar uma outra felicidade, um outro sabor, uma outra visão do mesmo olhar do mundo.


segunda-feira, 9 de julho de 2012


"Gosto de vocês . Não pela vossa cor mas pela vossa postura"

terça-feira, 3 de julho de 2012

Contagem decrescente: 2 dias.


Estávamos ali só os dois naquele café, num final de tarde de Outono, com o pior café que jamais bebi e que além de já ser mau só por si ainda me caiu pior quando ele me disse

“Ana, a Ana devia pensar bem, fazer um projecto assim apenas com estes meses será impossível”.

Primeiro admito, foi um pequeno choque. Aquele homem de cabelos brancos e com mais anos de experiência que eu acabava de me pedir para que não acreditasse naquilo que dentro de mim já começava a crescer, dizia para desistir do projecto que já explodia na minha cabeça e tentava derrubar todas as forças que tinha conseguido reunir.

“A Ana devia ponderar fazer o programa só para o ano. Tem que entender que fazer um programa à distância, sem conhecimento será muito difícil, demasiado arriscado”.

Todo aquele discurso a este ponto já não fazia qualquer sentido. Para mim eram só palavras, palavras vagas, sem significado relevante que apenas se exponham sobre mim numa realidade que não queria eu que fosse a minha. Mas, sinceramente? O que é que sabia eu? Tenho 23 anos e apenas uma paixão infindável por África e por este programa. O que é que isto significava frente a um sábio homem com os seus 60 anos e claros 30 anos de experiência neste mundo onde me arriscava agora? De que valia esta força que gostava de achar que tinha? E será que a tinha? Começavam a aparecer demasiadas dúvidas, questões e inseguranças para que eu começasse a temer o fim de uma estrada que ainda nem sequer tinha começado a construir.
Acho que foi aqui o meu ponto de viragem. Foi quando naquele café de paredes cheias de fotografias de pessoas famosas que por aquelas cadeiras desconfortáveis passaram, que eu o ouvi dizer a única coisa que precisava de ouvir

“A Ana nunca vai conseguir, arriscar assim seria uma loucura”.

A loucura, move o mundo. E moveu-me a mim. Saí daquele café com a cabeça erguida, com a intenção de ignorar as duas últimas horas de conversa e com uma força e vontade gigante de mostrar que ao contrário do que achavam iria conseguir ou iria falhar, mas tentaria sempre. Não ia desistir e decidi ir até onde achasse que fosse possível, até onde as minhas forças me levassem e até onde os meus passos aguentassem. Conheço-me bem para saber que seria uma batalha na qual eu iria dar luta. Este programa seria o “meu programa”, a minha raíz no mundo e não iria desistir dele, pelo menos não com tanta facilidade.
Passaram sete meses desde aquele café. Mentiria que dissesse que foi fácil, que fiz tudo com uma perna às costas, que nunca precisei de ajuda e que nunca me desviei deste grande objectivo. Seriam mentiras. Na verdade, custou imenso, tive imensas pessoas que não acreditaram em mim e neste objectivo, a desistência às vezes tornou-se a escolha mais fácil e toda a dedicação e tempo que são precisos às vezes tornavam-se um fardo que era difícil de suportar.

A loucura move o mundo. A mim moveu-me. Passados sete meses estou aqui, a desenvolver o AHEAD Rumos São Tomé, a tornar real a sua ideia pioneira, a lutar com mais 5 pessoas extraordinárias para que nunca nos possam mais dizer que a loucura não leva a lado nenhum. Não, não me digam, nem nos digam mais isto. Provei até aqui e irei provar durante os meses de Julho e Agosto que a loucura e a paixão que me moveram estavam do lado certo da vida.

A loucura, move o mundo. 

Ana(ita) Vasconcelos


São os detalhes que definem as pessoas. 
Que lhes dão côr e forma, graça e intenção.
São os detalhes que fazem a diferença, que cativam e nos tornam naquilo que somos.
Que aproximam.



A Anita tem todos os sonhos do mundo, tem força e um desprendimento saudável que não a deixa ficar parada  ver a vida passar. Ela corre atrás, ela acredita.
Faz o caminho que lhe parece mais correcto, não dá tudo de uma vez só, não ganha confiança numa conversa de café.
É uma apaixonada pela vida, pelas experiências e momentos que nos tornam maiores, mais fortes, mais felizes.
É a mãe do nosso projecto, o  AHEAD Rumos São Tomé.
Como dentro do que é real o impossível não é nada, de um sonho pioneiro criou um programa que alimentou com vontade, responsabilidade, com garra e confiança que foi ganhando contornos cada vez mais reais.
Acima de tudo a Ana acredita.
Acredita que a mudança começa pelas coisas simples e humanas, acredita na possibilidade de fazer a diferença, que o trabalho e dedicação antecedem a concretização.
Que a luta nunca é em vão, sabe que tentar sempre mais uma vez é sinal de inteligência e humildade mas que há momentos para tudo e quando é preciso parar, para-se.
A Ana tem pronúncia do norte, força para aguentar o barco e remar contra a maré.
Está sempre pronta para rir e com um sorriso para partilhar, gosta de aproveitar o que o mundo tem para oferecer mas quando o relógio aponta “trabalho” as prioridades mudam para que os objectivos sejam alcançados.
Se quinta feira vamos partir rumo a São Tomé e Príncipe com um sorriso e muita vontade na bagagem é à Ana que temos que agradecer.
Ela acreditou na mudança, neste projecto, em nós cinco.
Ainda há muito para conhecer, curiosidades por perguntar, feitios para compreender e mais detalhes para reparar.
Sabe melhor quando é aos poucos, tem muito mais sabor quando se descobre devagar.
A Ana acredita e nós acreditamos nela.
A palavra preferida nunca vai deixar de ser a mesma, AHEAD Rumos São Tomé.