Estávamos ali só os dois naquele café, num final de tarde de
Outono, com o pior café que jamais bebi e que além de já ser mau só por si
ainda me caiu pior quando ele me disse
“Ana, a Ana devia pensar bem, fazer um projecto assim apenas
com estes meses será impossível”.
Primeiro admito, foi um pequeno choque. Aquele homem de
cabelos brancos e com mais anos de experiência que eu acabava de me pedir para
que não acreditasse naquilo que dentro de mim já começava a crescer, dizia para
desistir do projecto que já explodia na minha cabeça e tentava derrubar todas
as forças que tinha conseguido reunir.
“A Ana devia ponderar fazer o programa só para o ano. Tem
que entender que fazer um programa à distância, sem conhecimento será muito difícil,
demasiado arriscado”.
Todo aquele discurso a este ponto já não fazia qualquer
sentido. Para mim eram só palavras, palavras vagas, sem significado relevante
que apenas se exponham sobre mim numa realidade que não queria eu que fosse a
minha. Mas, sinceramente? O que é que sabia eu? Tenho 23 anos e apenas uma
paixão infindável por África e por este programa. O que é que isto significava
frente a um sábio homem com os seus 60 anos e claros 30 anos de experiência
neste mundo onde me arriscava agora? De que valia esta força que gostava de
achar que tinha? E será que a tinha? Começavam a aparecer demasiadas dúvidas,
questões e inseguranças para que eu começasse a temer o fim de uma estrada que
ainda nem sequer tinha começado a construir.
Acho que foi aqui o meu ponto de viragem. Foi quando naquele
café de paredes cheias de fotografias de pessoas famosas que por aquelas
cadeiras desconfortáveis passaram, que eu o ouvi dizer a única coisa que
precisava de ouvir
“A Ana nunca vai conseguir, arriscar assim seria uma loucura”.
A loucura, move o mundo. E moveu-me a mim. Saí daquele café
com a cabeça erguida, com a intenção de ignorar as duas últimas horas de
conversa e com uma força e vontade gigante de mostrar que ao contrário do que
achavam iria conseguir ou iria falhar, mas tentaria sempre. Não ia desistir e
decidi ir até onde achasse que fosse possível, até onde as minhas forças me
levassem e até onde os meus passos aguentassem. Conheço-me bem para saber que
seria uma batalha na qual eu iria dar luta. Este programa seria o “meu programa”,
a minha raíz no mundo e não iria desistir dele, pelo menos não com tanta
facilidade.
Passaram sete meses desde aquele café. Mentiria que dissesse
que foi fácil, que fiz tudo com uma perna às costas, que nunca precisei de
ajuda e que nunca me desviei deste grande objectivo. Seriam mentiras. Na
verdade, custou imenso, tive imensas pessoas que não acreditaram em mim e neste
objectivo, a desistência às vezes tornou-se a escolha mais fácil e toda a
dedicação e tempo que são precisos às vezes tornavam-se um fardo que era difícil
de suportar.
A loucura move o mundo. A mim moveu-me. Passados sete meses
estou aqui, a desenvolver o AHEAD Rumos São Tomé, a tornar real a sua ideia
pioneira, a lutar com mais 5 pessoas extraordinárias para que nunca nos possam
mais dizer que a loucura não leva a lado nenhum. Não, não me digam, nem nos
digam mais isto. Provei até aqui e irei provar durante os meses de Julho e
Agosto que a loucura e a paixão que me moveram estavam do lado certo da vida.
A loucura, move o mundo.
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