quinta-feira, 20 de agosto de 2009


Foto: God's window - África do Sul

Sem motivo aparente começa a chorar. Estranhei. O Vicente não é criança de chorar. Não era o choro dito como "normal" das crianças do orfanato, era um choro sôfrego, intenso, acelerado, repetitivo em que todas as suas energias eram gastas naquelas lágrimas que não haviam maneira de serem paradas. Tentei perceber o que se passava. Tentei falar com o Vicente. Tentei que me ouvisse. Tentei que me olhasse nos olhos. Tentei que se sentasse comigo para tentar entender aquilo que por momentos me era inatendível. Nada. Absolutamente nada foi a resposta que obtive. O Vicente tinha-se fechado nas suas muralhas e não tinha deixado uma ranhurazinha para eu entrar.

Chegava quase a hora de irmos embora. Já as crianças do orfanato estavam nos baloiços. Nesse momento sinto uma mão pousar na minha cintura. Sim, era o Vicente.

"_ Ana, queres saber porque estava a chorar à pouco?
_ Claro que quero Vicente. Conta lá...
_ É que tu vais-te embora. Vais embora como vão todos embora. Até os meus amigos vão embora."


O trabalho de voluntariado é ingrato. Sim ingrato. Dá-mos a estas crianças um bocado que lhes tiramos depois. O pequeno Vicente estará melhor agora, ou estaria melhor se eu nunca tivesse aparecido na sua vida? Será assim tão justo entrar na sua vida para mais tarde sair sem autorização desta criança? O trabalho de voluntariado é ingrato.

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