terça-feira, 11 de agosto de 2009
Foto: Lixeira de Hulene
A resignação às vezes é quase como que uma revolta.
Ali o dia é noite.
Ali o bicho anda À solta.
Ali a paisagem é uma linha de terra que corta os montes que são feitos de lixo.
Ali impera o cheiro nauseabundo.
Ali o nada é rei.
Ali as crianças brincam com as latas utilizadas.
Ali crianças de 10 anos usam máscaras.
Ali existem casas coladas ao infinito do lixo.
Ali o mar de lixo não tem horizonte, não acaba.
Ali é vivida a maior lixeira de Maputo.
Ali o Mundo parou.
Ali a justiça derrubou.
Ali a pobreza tomou lugar de todos os cantos.
Ali nada existe a não ser as pilhas de papel, de latas, de lixo.
Ali a civilização perdeu o sentido.
Ali estão pessoas esquecidas.
Ali tudo está perdido.
Ali nada se ganha.
Ali o amanhã não será diferente do ontem e do hoje.
Ali o avanço perdeu o sentido.
Ali o futuro é inalterável.
Ali as cores cinzentas das pilhas de lixo abundam.
Ali as pessoas procuram comida no lixo.
Ali só resta a defesa da dignidade que lhes resta.
Ali as crianças não são crianças.
Ali a saúde não tem importância.
Ali só se vê as sombras das pessoas que esgaravatam no meio do lixo.
Ali as crianças comem o pedaço de maça que encontram no meio de um lixo doméstico.
Ali o amanhã está perdido.
Ali as palavras mais duras que posso usar não chegarão nunca para descrever o que se vê, sente, cheira na Lixeira de Hulene
"(...) não é real somente a realidade que conhecemos, mas também a de que necessitamos" (Eduardo Galeano)
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