domingo, 23 de agosto de 2009
Fotos: Ricochó
Contagem decrescente. Dizer assim parece que é algo negativo, algo que esperamos que acabe, algo que ansiamos o seu fim, algo que não marcou pelo lado bom da vida.
Não, nada disso, isso é errado. Quer queiramos quer não entrei esta semana numa contagem decrescente que me custa, que não queria, que não anseio que acabe. UMA SEMANA! Não quero que acabe os melhores dois meses da minha vida. Não o digo com medo, com atrevimento, com dúvidas. Escrevo-o, digo-o, demonstro-o com toda a certeza que os meus 20 anos podem ter.
Entrei neste projecto a dizer: "_Vou receber mais do que vou dar" Como é verdade. Não me ousem dizer: "Ahh... foste tão corajosa. Que nobreza!" Não. Não me voltem a dizer isso. Durante estes dois meses aprendi mais do que em quaisquer dois meses na minha vida. Não me falem deste projecto como se não recebesse nada, como se saísse daqui vazia, como se fosse eu a única e exclusivamente que iria dar sem retorno. Dei, sim é verdade, dei. Dei de mim a um projecto como nunca antes, dei aquelas crianças o limite das minhas forças, dobrei-me em mil para muitas vezes lhes conseguir chegar, com as 13 pessoas que vivem comigo dei o melhor de mim, o meu esforço diário, o apoio mais forte que consegui, as risadas mais puras que vivi, a este povo dei uma nova visão de vida.
Não apenas dei. Recebi. Recebi muito. Com uma casa cheia aprendi a ter calma, a ter respeito, a ter uma serenidade que desconhecia no limite do meu fervilharão tipico de uma jovem de 20 anos, aprendi que ainda existem amigos verdadeiros, aprendi a beleza dos defeitos das outras pessoas, aprendi a comer numa mesa cheia, aprendi a aceitação de ideias contraditórias, com este povo aprendi a felicidade extrema, a facilidade da vida, a superação de tantos problemas, o sorriso genuíno, o lado bom da vida, a pobreza, o verdadeiro choro, o aperto no coração, um lado da vida negro que a minha bolha actimel nunca me deixou ver, a simpatia, a lealdade, a fome, o olhar de medo, com aquelas crianças da escola aprendi a ajuda, aprendi a calma, aprendi a atenção, aprendi a ser compreensiva, aprendi a ter que ser inovadora, aprendi a ultrapassar o que desconhecia, aprendi a errar, aprendi a errar com o apoio daquelas pintarolas que errando eu, nunca me censuraram, sempre me ajudaram, aprendi a felicidade e realização de juntos conseguirmos começar a ler pequeninas palavras, fazer pequeninas contas, aprendi o espírito de união que pode existir entre 7 crianças. Com o Sipriano aprendi a diferença, aprendia a beleza dos gestos simples, aprendi o sorriso puro, recebi o beijo mais intenso da minha vida, aprendi a vitória das pequeninas coisas, aprendi que é possível mudar a vida, o futuro. Com as crianças do orfanato aprendi um lado terrível da vida, aprendi a dureza de quem vive na rejeição, aprendi como é duro ver todos irem para casa e uns a sempre ficarem, aprendi a chegar ao coração de quem inicialmente não nos deixa, aprendi com o Vicente o abraço mais apertado do Mundo, aprendi com o Dudu a responder a perguntas difíceis, aprendi histórias cruéis que marcavam cada criança que ali estava, aprendi a reacção que cada um deles tinha quando receberam o seu primeiro caderno, quando pela primeira vez tiveram uma espécie de escola, o mais próximo de escola que lhes poderíamos dar. Com África, conheci as melhores paisagens de sempre, vive as maiores histórias da minha vida, aprendi a viver sozinha, aprendi a superar a saudade, conheci uma realidade que desconhecia, aprendi uma nova forma de caminhar, de respirar, de viver.
Superei o que achava que não conseguia. Superei, mudei, vivi, alterei e estou feliz. Estou feliz como nunca estive.
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