terça-feira, 11 de agosto de 2009


Foto: 2º classe da Escola Maxaquene Khovo (a minha turma)

Sozinhos, às vezes somos pequenos, as nossas passadas são curtas, o nosso fôlego não é suficiente, a nossa energia esgota-se. Juntos não. Juntos às vezes somos maiores que os obstáculos, somos mais altos do que os muros, somos mais fortes, somos um passo gigante que alcança e ultrapassa os nossos próprios problemas.
Eu e o Sipriano juntos conseguimos mais do que sozinha eu conseguiria ou mesmo ele sozinho o conseguiria. Vejam, se o Sipriano não me desse constantemente força para continuar a lutar por ele, com ele, não o faria. Se ele não avançasse como avança talvez não tivesse eu força suficiente para tentar como tento.
Hoje o Sipriano contou até 10. Sim aquele menino que quando entrei dentro da sala de aula no 1º dia se sentava na última carteira do canto, sozinho a fazer bolinhas, já conta até 10.

Fechem os olhos e imaginem o cenário que vos dou da aula de hoje.
Após tanto batalhar o 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10 com o Sipriano auxiliando com as canetas de cor, o Sipriano hoje conseguiu contar até 10. Quando sozinho o fez não quis acreditar. Nem eu, nem os restantes meninos que estão comigo. A cara de surpresa especado nas suas caras foi a prova disso. Como aprenderam aqueles miúdos a adorar o Sipriano. Essa foi uma das pequenas vitórias que tive naquela sala de aula e que mais gozo me deu em atingir. Quando lá entrei pela primeira vez o Sipriano por razões que saltavam logo a vista como a cor e pela própria doença era um menino discriminado. Aqui, na terra onde não deveria imperar a discriminação, a forma como tratavam aquele menino e como tratam todos os que lhes são diferentes sempre mexeu bastante comigo. A forma como hoje estas crianças estão mudadas pelo menos em relação ao Sipriano é notável. Sinto-me concretizada só por isso. Hoje o Sipriano é adorado naquele meio, hoje uma vitória do Sipriano é uma vitória do grupo e isso, isso é bom de se sentir. Talvez por ter conseguido atingir este ponto de partilha entre os meus 7 meninos hoje quando o Sipriano contou até 10 todos os restantes que olhavam atentamente para a sua cara branca à espera que conseguisse dizer os números na ordem correcta, bateram palmas.

O Sipriano parou, estagnou, ficou sem reacção. Provavelmente foi a primeira vez que ouviu palmas de mérito para ele mesmo. Encheu-me de orgulho. Acredito que até a vocês encheu. É delicioso ter estes momentos com estas crianças.

Enquanto o barulho das palmas ainda ecoava na sala sussurrei ao seu ouvido: _" Vês Sipriano, tu consegues. Tu consegues". A forma como olhou para mim e repetiu 3 vezes "_Eu consigo" valeu mais do que qualquer palavra que use agora. São momentos em que as próprias palavras não são suficientes para descrever.


Existem momentos em que as palavras nos falham.

1 comentário:

  1. "Existem momentos em que faltam as palavras aos pais para descrever o orgulho que sentem pelos seus filhos".
    Obrigado Titó

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