sexta-feira, 31 de julho de 2009
Escola Primária Maxaquene Khovo
Foto: Escola Primária Maxaquene Khovo
Pela primeira vocês vão conseguir ver a minha realidade. Pelo menos sem ser pela descrição das minhas palavras. Poderão ver com os vossos próprios olhos. Vejam. Estes são os meus meninos, olhem bem os sorrisos, olhem bem o Sipriano. Conseguem perceber o que vos dizia? Conseguem entender o que escrevia? Olhando para eles quem não vê pureza? Quem não inspira simplicidade? Quem não detecta o seu genuíno sorriso? Quem?
A sensação de que estamos no Mundo com algum objectivo, com algum propósito, a sensação de estarmos vivos, de conseguirmos atingir objectivos, de lutar pelo que nos é tão próximo e distante ao mesmo tempo, a sensação de conseguir atingir com as nossas atitudes mais do que nós mesmos, atingir outras pessoas. Esta, garanto-vos, é a melhor sensação do Mundo. Nunca me tinha sentido tão viva e tão prestável como me sinto hoje, como me senti no último mês.
Hoje ensinei o Sipriano a contar até 5. Entendem o que isso é? Estou a conseguir dar algum estimulo a uma criança que no primeiro dia em que a vi era uma criança perdida naquela sala de aula escura com um cheiro estranho. Ele contou até 5 sozinho! Conseguem entender o efeito que isto teve em mim? Não sei se o Sipriano o disse de forma meramente repetitiva, sem perceber o conteúdo das palavras que prenunciava, mas mesmo assim, isso implica uma evolução, um avanço e isso deixa-me mais feliz do que tudo. Sinto-me de uma felicidade extrema. Gritei na aula quando ele contou sozinho com a ajuda dos meus dedos até 5. Acho que ninguém entendeu o festejo da minha pequena vitória e da vitória tão grande do Sipriano. O próprio Sipriano esboçou um grande sorriso, mas talvez não tenha entendido o porquê da nossa alegria. A questão é que partilhamos, por momentos, a mesma vitória, a mesma felicidade, o mesmo objectivo, a concretização do mesmo sonho. A questão é que por momentos naquela sala só nós os dois entendemos o que aquele "1,2,3,4,5" quis dizer, a questão é que fomos cúmplices de uma das maiores felicidades que já senti.
Não vou parar. Nunca irei parar.
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Africa? para onde foste parar. Ja tive a ler um pouco do que aqui tens escrito, e sinceramente vale a pena. Acredito que a experiencia pela qual estas a passar seja extremamente enriquecedora. Continua a vir aqui escrever quando poderes, e boa sorte para a tua nova carreira de professora ;)
ResponderEliminarIr a Africa é ganhar uma filosofia diferente de vida, é acreditar que nos queixamos demais, que sorrimos poucas vezes e que poderiamos acreditar um pouco mais... Quando voltamos à nossa realidade, sentimo-nos mais forte que nuncas, que conseguimos, pois sentimos que nada será pior do que aquilo que vimos e vivemos em Africa.
ResponderEliminarÉ brutal, o desejo das crianças aprenderem, a forma como dançam ao som da musica imaginária. Eu tipo o prazer ou o privilégio de ensinar uma criança de 12 anos a escrever as suas primeiras palavras e compreender o que nelas continham.
A forma que, naquele mundo (não cruel) sofredor, as pessoas sorriem e vivem de uma forma tão ou mais natural que nós, é simplesmente jubilante.
Desculpa as minhas longas palavras, eternamente grato por tudo aquilo que partilhas aqui, senti-me lá por momentos.